Aura humana
Se a natureza benigna reabsorve os amantes,
decerto seria estranho não amarmos noutra vida,
não recebermos novamente nova aura humana,
não voltarmos a ser tudo aquilo que já fomos -
nem mais desejarmos o que antes desejáramos.
Pois o tempo rodopia as idades em remoinho
e a todas sobrepõe sua lei imutável:
nada do que é nos altera nem nos pode apagar.
Ser aqui é milagre na bainha do tempo.
Que morra quem seja: é-lhe o mundo outra vez.
De fôlego infindável é o ser-no-futuro;
pois o que aqui é distância, lá é respirar.
Frederico Lourenço
Publicado em 27 de Outubro de 2014