O bêbado deixa para trás as casas estupefactas. Nem todos se aventuram a passear bêbados à luz do sol. Atravessa tranquilo a rua, e poderia entrar pelas paredes dentro, pois as paredes estão ali. Só os cães deambulam assim, mas um cão pára sempre que sente uma cadela e cheira-a cuidadosamente. O bêbado não vê ninguém, nem mesmo as mulheres. Na rua, as pessoas que se perturbam ao vê-lo, não se riem e gostariam que não estivesse ali o bêbado, mas os muitos que tropeçam ao segui-lo com os olhos voltam a olhar em frente com uma praga. Passado que foi o bêbado, toda a rua se move mais lentamente à luz do sol. E se uma pessoa começa a correr, é alguém que não o bêbado. Os outros olham, sem distinguir, o céu e as casas que nunca deixaram de estar ali, ainda que ninguém as veja. O bêbado não vê as casas nem o céu, mas sabe que estão ali, pois num passo pouco firme percorre um espaço tão claro como as franjas do céu. As pessoas, embaraçadas, deixam de compreender o que fazem ali as casas, e as mulheres já não olham para os homens. Têm todos, dir-se-ia, medo de que de repente a voz rouca se ponha a cantar e os persiga pelo ar. Cada casa tem uma porta, mas não vale a pena entrar. O bêbado não canta, mas mete por uma rua onde o único obstáculo é o ar. Felizmente não vai dar ao mar, pois o bêbado, caminhando tranquilo, entraria também no mar e, deixando de se ver, prosseguiria no fundo o mesmo caminho. Cá fora, a luz seria sempre a mesma. Cesare Pavese