Auschwitz não foi o jardim de minha infância. Eu cresci entre bestas e ervas, e em minha casa a pobreza acendia seu candeeiro de noite. As árvores se enchiam de ninhos e de estrelas, pelos caminhos, assustando-se, passava uma égua muito branca. Auschwitz não foi o jardim de minha infância. Só posso recordar o sacrifício das lagartixas, o fogo escuro do lar nas noites de vento, as mocinhas banhando seus risos no rio, a camisa suada de meu pai, e o medo diante do brutal uivo das águas. Auschwitz não foi o jardim de minha infância, chupei rebuçados e lágrimas, em meu avião de madeira conquistei nuvens de capim e não de pele humana. Sou um privilegiado deste tempo, cresci sob a luz violenta de minha terra, ninguém me obrigou a andar de quatro, e quando me perguntam meu nome um raio parte a sombra de uma guásima. Fayad Jamís