O silêncio e a temperatura dos museus permeiam toda a cidade. A quantos serviram estas velhas casas? Hoje são montras de antiqualhas, folhas roubadas ao calendário da mocidade inglesa de 1890. Caixas de tabaco, tinteiros de louça, leques ilustrados com danças de estilo e figuras. Melhor ou pior, toda a gente desperdiça a sua vida. Entretanto o dia acaba a meio da tarde porque é Dezembro. A esta hora os autocarros já vão cheios de gente para os arredores, Sydenham, Whitnash, South Farm, onde as estradas anoitecem entre casas geminadas e os corvos sobrevoam os quintais dos imigrantes. Certos sentimentos podem de repente viciar as cores do mundo. Vêem-se cercas, antenas e tabuletas, tudo coisas úteis às complicações do escuro que nos pertence, que sempre nos pertencerá. Rui Pires Cabral