Eu não quero
eu não quero concordar com beckett ou com tudo
o que morre em metáforas.
há algures um contrato de não discrepância
entre aqueles
que pensam e aqueles que sonham.
eu poderia até concordar com vinícius
ou manoel de barros,
quem sabe com jovens poetas como ricardo domeneck
ou ben clark. mas não.
hoje não. não esta noite. esta noite
há um sorriso artesanal que sustenta por um lado
a minha falsidade, por outro a minha verdade.
há uma vontade expressa entregue às traças
e predilecções no seu mapeamento
sem regras. há uma cabeça que faz 360º.
eu não quero concordar com qualquer poeta
que amplifique o mundo.
o que eu quero é conseguir dizer-me do tamanho
que sou. que sou assim desordenada, com
aquilo que um dia chamei de prática
do meu desconserto, com o ínfimo branco
de uma folha que apaga as palavras.
mas afinal:
o que são as palavras?
Sylvia Beirute
Publicado em 14 de Dezembro de 2014