O dia está para versos e cerveja amarga. No sombrio Jug'n'Jester, com bancos de engordurada madeira e fotografias das grandes cheias de Leam. Em frente o largo da igreja paroquial que a chuva despovoou e à volta os ingleses da vila num momento fortuito de um enredo maior. São da minha idade os da mesa de canto, trocam livros e seguem uma moda própria, reminiscente de uma juventude literata e boémia desbaratada nos anos 80. Pergunto-me que nomes lhes deram e se terão, como eu, medo de morrer sozinhos. Terão tentado a sorte nas avenidas de Londres e regressado a casa para arranjar um emprego na discoteca do mall? Sim, eles conhecem bem a província da insónia e do rancor, o pequeno desgosto de saber onde desembocam as ruas. Mas isto vem afinal nos braços frios da tarde, dentro da minha cabeça onde já recomeçou a desfiguração do mundo: por não me teres acolhido nos meus erros e nas minhas feridas, nem teres percebido ainda o quanto esta vida nos pesa e nos trai. Rui Pires Cabral