História breve de um pássaro ao entardecer
Trazia irritações várias na lapela,
no bolso em escada cigarros previdentes.
Por vezes levava um sorriso que por vezes dava
sem ser preciso
Passeava em passeios e poentes de uma cidade última
que encolhia.
Aí se encontrava,
que aí se perdia
Dono de alguma educação e polidez
raramente pronunciava um palavrão na gíria chã
- cada vez mais os soletrava em crescendo
no silêncio de quarto e texto,
paredes meias com algum desgosto de repente
e consciência
Por vezes pensava na moça mais bonita da aldeia,
no recorte por trás do vestido,
na cova da orelha, no cobre a subir-lhe o rosto em mãos
descalças.
Devia haver espaço, pensava,
onde guardar o apontamento
que não espera.
No fim, igual a qualquer um,
pouco curiosa esta espécie de pássaro
a entardecer.
Não, não é com gosto
que me entrego
à moral.
Rui A.
Publicado em 13 de Março de 2015