Quando abri o coração
Quando abri meu coração, havia dentro
um deus ferido;
caía pelaface esquerda
até romper a luz
e estremecer a terra.
Quando abri meu coração
havia uma oliveira incendiando entre raios.
Percutia o punho dos vazios
e brandia seus braços o estrago.
Quando abri meu coração,
as fráguas não mais ardiam,
mas o duro golpear dos ferros
arrastava
estrondos carcerários e suspiros.
Quando abri meu coração,
o poema, viu a descarnada face da guerra,
de seus lábios saíram os adeuses,
houve tremores noturnos
e a silenciosa fuga das estrelas.
Quando abri meu coração, rompiam-se a pena,
o roído, o pó
e as últimas palavras desencontradas,
os olhos na sombra submersos
as lembranças insones
revolvendo-se no vazio.
Quando abri o coração,
as lágrimas domundo eram maiores...
Alcira Cardona,trad. Antonio Miranda
Publicado em 28 de Março de 2015