Variações em Adélia Prado
(gentileza de amigo que cultiva a discrição)
Sávio,
por tua causa
começam a acontecer coisas estranhas
comigo
tenho medo da Europa e quero visitar-te
ir ao Ceará e bebermos
um chá de limão
como deve estar quente Fortaleza
quero sair daqui apanhar o primeiro avião
e partir
estou sem paciência para as alcoviteiras
do meu quarteirão
chega de saber quem morreu, enviuvou ou tem corno
quero beijar a tua unha amarelada pelo vício do tabaco
sem ti perco os dias, esqueço-me de comer e o meu sono é pouco
tenho ensaiado perto do laranjal de minha casa
o nosso provável diálogo, quando me vieres buscar ao aeroporto com
os teus ray ban
diz-me a que horas pensas em mim para eu atrasar
o relógio da cozinha
caí no ciclo esquisito de te ver em todas as coisas
na chanata esquecida
no passarinho verde
ou no carteiro
Sávio, querido, espero por ti no aeroporto
com os cabelos soltos
como dita a natureza do primeiro encontro
Pedro Craveiro
Publicado em 22 de Março de 2015