O homem do povo descreveu as folhas como sendo verde-água. Ao evocá-las no seu romance, o escritor as definiu verde-esmeralda. Quando se fez o filme baseado naquela história, o realizador pediu aos actores que apareciam debaixo da árvore para que vestissem roupas a condizer com o verde-hawai das folhas. Os trabalhadores que retiravam os cenários, mal-humorados e sonolentos, viam-nas verde-escuro. Já ninguém se lembra dela, mas a árvore permanece no seu sítio. Viu engrossar a sua cortiça e cresceu alguns centímetros. Presa sem mérito ao solo recebe agradecida a chuva, balança com o temporal e dá sombra a quem se aproxima. Não sabe que inspirou um livro ou que apareceu num filme. Se fosse um homem diríamos que é dessa espécie de sábios que ignoram os adjectivos que qualificam cada verde que vêem. Rafael Camarasa