Em alguma vida fui ave. Guardo memória de paisagens espraiadas e de escarpas em voo rasante. E sinto em meus pés o consolo de um pouso soberano na mais alta copa da floresta. Liga-me à terra uma nuvem e seu desleixo de brancura. Vivo a golpes com coração de asa e tombo como um relâmpago faminto de terra. Guardo a pluma que resta dentro do peito como um homem guarda o seu nome no travesseiro do tempo. Em alguma ave fui vida. Mia Couto