Que verdade existe no ventre das pombas? A verdade está na língua ou no ventre dos espelhos? A verdade é o que responde às perguntas dos príncipes? Qual é então a resposta à pergunta dos oleiros? Se levantares uma túnica encontrarás um corpo mas não uma pergunta: para quê as palavras enxutas em cíngulos ou as construídas em esquinas imóveis, as convertidas em lâminas e, em seguida, despojadas e ávidas? Ou melhor: alguma vez fui cínico como asfalto ou pelame? Não se trata disso, apenas que o asfalto possuía a minha memória e as minhas exclamações relatavam a perdição e a inimizade. A nossa sorte é difícil reclusa na beladona e nos recipientes que não devem ser abertos. Sujo, sujo é o mundo, porém respira. E tu entras no quarto como um animal resplandecente. Depois do conhecimento e do esquecimento que paixão me concerne? Não hei-de responder mas sim reunir-me com tudo o que está oferecido nos átrios e na distribuição dos resíduos, com tudo o que treme e é amarelo debaixo da noite. Antonio Gamoneda