A música partilha com a flor a carne que se alaga como um copo. A música é um rizoma atómico cheia de sílabas grossas e finas no peito maduro da onda. Por isso a onda cai e a flor também. E se te digo sei que ficas triste e é quando substituis essa geração de força por dois pequenos vasos à entrada do teu dorso (e qual és tu e qual sou eu é uma haste subindo) Do teu lado esquerdo é dia. O vestido é branco e aponta a cidade a que chegas com os dedos, rodando os ombros mas não a cabeça. O teu olhar é uma ferida musical sem verbo fixo: a penumbra bate às vezes na pálpebra, outras na imaginação. A queda gera o seu próprio impulso, como se fosse o preen- chimento de uma forma: chama-se amor e serve para os ouvintes ouvirem o esbracejar do desejo, esses versos de asa silenciosa- ouves? Há poetas azuis que julgam que a coerência é um pardal azul (da goela até aos pés). Normalmente limpam os óculos com coerência, em vez de com (enfim) e depois vêem o mesmo pardal, a todas as horas do dia e da noite, sentado azul- mente sobre o seu nariz azul. Pela direita, dizes que os versos não caem se mudares constantemente o chão. Mas os sonhos sim, e que a transla- ção do vento sabe do remorso dos bichos mais pequenos: procura as palavras junto ao chão e se não me vires, é porque o silêncio é também a música e canto-a sem nome para ti Rui Costa