imagino que sobre nós virá um céu de espuma e que, de sol em sol, uma nova língua nos fará dizer o que a poeira da nossa boca adiada soterrou já para lá da mão possível onde cinzentos abandonamos a flor. dizes: põe nos meus os teus dedos e passemos os séculos sem rosto, apaguemos de nossas casas o barulho do tempo que ardeu sem luz. sim, cria comigo esse silêncio que nos faz nus e em nós acende o lume das árvores de fruto. diz-me que há ainda versos por escrever, que sobra no mundo um dizer ainda puro. Vasco Gato