Tenho 31 anos e estou cansado. Todos os sítios me vão parecendo, finalmente, igualmente maus. Todas as pessoas, incluindo as que gostam de mim, insuportáveis. Não encontro sentido nem para o que faço nem para as coisas que deixo por fazer. Olho para os outros com a absoluta certeza de quem vê não semelhantes, serenos, resignados, envilecidos extraterrestres. Olho para mim e sinto-me como se não tivesse outros com quem partilhar. Para onde quer que eu olhe, a insuportável mentira que faz ninho, germina, destila este tempo, este país, este modo de viver a que chamam progressista, tolerante, solidário, democrático, avançado, europeu, e melhor e melhor que todos os existidos, que todos os possíveis. Este modo de viver onde falta tudo o que foi nomeado. Que desfez a classe trabalhadora sem uma única bala, que encarcerou as consciências sem uma única grade, que me afasta sem um único cassetete, que me exclui sem um ferro candente, sem sequer uma estrela amarela na lapela. Este tempo de fatos novos, de Imperadores. Antonio Orihuela, trad. Joaquim Manuel Magalhães