A erva da fortuna cresce como por encanto nas orelhas dos políticos, o primeiro ministro proclama a amnistia para os cucos dos relógios, o degelo nas relações inter- nacionais restabelece o nível das águas nas albufeiras, o ministro da energia esfrega as mãos de contente. Embora o boletim meteorológico seja controlado pelo governo, nuvens cor de chumbo toldam frequentemente o horizonte, os pescadores de águas turvas procuram o alto mar, uma chuva de impostos cai de imprevisto ah a chuva na primavera, escrevem os poetas. As andorinhas podem passar livremente a fronteira. Os polícias oferecem grinaldas aos condutores de veículos mal estacionados. O cio invade a assembleia. Os depu- tados bombardeiam-se com pólen. Um nostálgico do outono argumenta: a primavera de Praga também foi de lagartas nas estradas. Jorge de Sousa Braga