Esta voz com que gritei às vezes não me consola de só ter gritado às vezes. Está dentro de mim como um remorso, ouço-a chiar sempre que lembro a paz de segurança estulta sob mais uma pedra tumular sem data verdadeira. Quando acabava uma soma de silêncios, gritava o resultado, não gritava um grito. Esta voz, enquanto um ar de torre à beira-mar circula entre as folhas paradas, conduz a agonia física de recordar a ingenuidade. Apetece-me explicar, agora, as asas dos anjos. Jorge de Sena