Indignar-me é o meu signo diário. Abrir janelas. Caminhar sobre espadas. Parar a meio de uma página, erguer-me da cadeira, indignar-me é o meu signo diário. Há países em que se espera que o homem deixe crescer as patas da frente, e coma erva, e leve uma canga minhota como os bois. E há os poetas que perdoam. Desliza o mundo, sempre estão bem com ele. Ou não se apercebem: tanta coisa para olhar em tão pouco tempo, a vida tão fugaz, e tanta morte... Mas a comida esbarra contra os dentes, digo-vos que um dia acabareis tremendo, teimar, correr, suar, quebrar os vidros (indignar-me) é o meu signo diário. Fernando Assis Pacheco