Das relações profícuas
Garanto-te que o dia pode ser claro
(suspeito que sim, questão de vontade);
Asseguro-te, como certo,
que muitas aves virão cercar-te a saia
(penso que sim, para lá da vontade);
Prometo-te os astros, e algumas neblinas.
E ofereço-te um tinto, da melhor colheita que tiver em casa
(será uma bojuda garrafa de setecentos e cinquenta mililitros,
se a beberes comigo é colheita excepcionale encontra-se outra);
Prometo-te dizer mal de quase todos os políticos, gestores de empresas,
Empreendedores, chapeleiros, futebolistas, parvos e brejeiros
(procurando não beliscar, entre esses, aqueles que preferes);
Asseguro-te um gelado um refresco um passeio na manhã fria,
(para daqui a bocadinho, após preguiça).
Garanto-te que o arrependimento e a decepção
só acontecem daqui a quinhentos anos.
Prometo que não canto no banho
(e que o tomarei de vez em quando).
Prometo festins pouco vegetarianos, alguma gula
e música de razoável bom gosto
(alguns arranjos descomunais, intraduzíveis).
Comprometo-me desde já a ser banal umas quantas vezes
e a gostar sempre (muito) das tuas olheiras e cansaços:
Prometo que não te quero largar
antes de te arranjares.
E olha: quando for às compras trago-te uma maçã;
Redonda, riscadinha.
(esse, o meu melhor argumento).
Rui A.
Publicado em 23 de Outubro de 2015