A chuva, disseste, é o silêncio com o volume levantado. Está a chover há dias. Mesmo quando pára subsiste ainda o som da água da chuva, tentando encontrar a custo uma forma de penetrar no solo. Estamos deitados num abraço soturno: duas metades a tentarem completar-se, empenhadas nesta interrupção da estática, do ruído branco que foi a chuva a cair o dia inteiro e toda a noite recoberta. O silêncio é a chuva com o som baixinho, e espio agora sem entraves algo que ficou lá fora no estendal: uma vida, para ali emaranhada — ensopada, encolhida, irreconhecivelmente minha. Robin Robertson, trad. Vasco Gato