Que faria eu sem este mundo sem rosto sem questões Quando o ser só dura um instante onde cada instante Se deita sobre o vazio dentro do esquecimento de ter sido Sem esta onda onde por fim Corpo e sombra juntos se dissipam Que faria eu sem este silêncio abismo de murmúrios Arquejando furiosos em direcção ao socorro em direcção ao amor Sem este céu que se eleva Sobre o pó dos seus lastros Que faria eu eu faria como ontem como hoje Olhando para a minha janela vendo se não serei o único A errar e a mudar distante de toda a vida preso num espaço marionete Sem voz entre as vozes Que se fecham comigo. Samuel Beckett