Dizem, do silêncio, que pode ter todas as esferas, e mais uma - a cortar arestas, dessas que rasgam as manhãs mais fevereiras, a encurtar musgos e danças. Dizem, do silêncio, que é flor de Maio no sonho mais perto, que é grito, que é lança, que é todo um manifesto contra a ortografia; Dizem, do silêncio, que tem mais que sete mil metáforas (e cinquenta alegorias), e margens tão largas, tão largas, que nelas cabem os sonhos imensos de vários meninos azuis, os caracóis de Laura, na curva da escada (nunca entendi os degraus de Laura, ou as suas farpas, mas é certo que não estive em África); os dias à espiga, mais que à espingarda. No silêncio tudo pode ser tudo, e tudo pode ser nada - o silêncio é assim. Será? Mais que dezassete palavras. Mais, muito mais. O silêncio pode ter o mundo - dizem que tem almofadas. Que mais queres? Rui A.