Se eu pudesse, escrevia dos ventos, escrevia dos verbos em que estivesse. Se eu pudesse, dizia-te mil cento e quatro palavras numa só, e cantava-te a música que pode ir nas palavras e nos números; Se eu pudesse, mergulhava nos teus olhos, e não só (mas também), a tentar espantos e esperas (sem atletismos, que não calham à espátula). E procurava as tuas rugas de marfim (forma pouco interessante de um dizer da tua pele, todo um jeito por aprender), e o tanto mais entre elas. Se eu pudesse, prescindia de todo e qualquer poema (mesmo dos que fazes e fizesses, em cores e pontos), para viver mais perto os dias menos interessantes, de mercado e sombra; E fugia dos princípios deste texto (pobre, reconheço, nem por isso), para os que houvesse. Se eu pudesse, escapava a toda a noção do dever, e a todos mas todos os conceitos por trás da nobre inquirição das almas (da cultura judaico-cristã pouco percebo, mas fica sempre bem lembrá-la - nomeadamente em salões de baile, a fingir cultura). Se eu pudesse contava-te de alguns nenúfares que rimam com os teus cabelos. E escutava-te em todo o teu silêncio (quando quisesse, quando quisesses), quem sabe até falávamos, inclusivamente, dos dias. Em forma de berlinde Rui A.