Dos nenúfares, bela água
Se eu pudesse, escrevia dos ventos,
escrevia dos verbos
em que estivesse.
Se eu pudesse, dizia-te mil cento e quatro palavras numa só,
e cantava-te a música que pode ir nas palavras e nos números;
Se eu pudesse, mergulhava nos teus olhos, e não só
(mas também),
a tentar espantos e esperas
(sem atletismos, que não calham à espátula).
E procurava as tuas rugas de marfim
(forma pouco interessante de um dizer da tua pele, todo um jeito por aprender),
e o tanto mais entre elas.
Se eu pudesse, prescindia de todo e qualquer poema
(mesmo dos que fazes e fizesses, em cores e pontos),
para viver mais perto
os dias menos interessantes, de mercado e sombra;
E fugia dos princípios deste texto
(pobre, reconheço, nem por isso),
para os que houvesse.
Se eu pudesse, escapava a toda a noção do dever,
e a todos mas todos os conceitos por trás da nobre inquirição das almas
(da cultura judaico-cristã pouco percebo, mas fica sempre bem lembrá-la
- nomeadamente em salões de baile, a fingir cultura).
Se eu pudesse contava-te de alguns nenúfares que rimam com os teus cabelos.
E escutava-te em todo o teu silêncio
(quando quisesse, quando quisesses),
quem sabe até falávamos, inclusivamente,
dos dias.
Em forma de berlinde
Rui A.
Publicado em 13 de Novembro de 2015