Era vermelha a rosa que a minha mulher cortou para pôr junto ao retrato de minha mãe, que fazia anos ontem. era de um fulgor surdo e recatado, a implodir tantas coisas já sem nome para o interior macio das pétalas. "Pus uma rosa do jardim junto ao retrato da tua mãe", disse ela então ao telefone, "uma rosa vermelha muito bonita", acrescentou com uma leve sombra na voz e era sombria a rosa, mesmo ao telefone, por ser o dia dos seus anos. e era sombrio recordá-la. Uma flor pode ser de uma obscura incandescência junto de alguém. prende-se a delicados filamentos da memória como a cabelos enredados. era sombria a rosa sobre a cabeça branca, o olhar bondoso, as feições plácidas, o que de minha mãe não se desfigurou e a rosa iluminava devagar, junto ao retrato. Vasco Graça Moura