Quando se pensa neste amor que é feito De tão variados modos sempre iguais (ou de modos semelhantes tão diversos), e se viveram já mais de trinta anos de sonhá-lo, e fazê-lo, e desejá-lo ainda e sempre como adolescente sempre temendo quanto não conhece ( e ao mesmo tempo nada é já surpresa no prazer que não cansa como nós)- quando pensamos quantas vezes, quanta gente por nós passou que possuímos ( se era de quem sempre desejou um outro corpo além do que abraçava, mesmo se o corpo fora o desejado mais)- quando se pensa na ternura, o anseio nos rodeando a vida que nos foge e sendo como o que ainda mais a afasta na dor de ser-se amado não se amando senão o amor e não quem nos amara por nós e em nós e não do que fazemos- desde o nascer à morte, desde o instante em que o prazer do sexo se descobre até quando será memória extinta nada sentido tem, nem o desejo que sem sentido continua a ser o só que vale a pena de ter tido no desespero irónico de ser-se. Jorge de Sena