Este silêncio picotado após a chuva após o receio de que o mundo se desconversasse para sempre esta trégua erguida como cenário diante da rara luz com que se assinam as ruas ver assim o sossego a pilhar os prédios a colar os miúdos às janelas com o mesmo espanto oblíquo de cães e gatos ver assim o futuro a assobiar para o lado para que não nos distraia deste epicentro a ambição da mera e pobre fome com que o calendário inteiro desejamos dissecar o coração e sentenciar: vês nada este filtro com que é possível por vezes peneirar os borbotões da realidade e sacar-lhe um mindinho de gozo nada de festas nada de proclamações apenas o fim da chuva algo caramba de muito concretamente nosso que o humano não é senão um contágio da paisagem uma tarefa da atenção repara Vasco Gato