Subitamente
Nada espera que deposites os olhos
num retrato de instáveis elementos
a erva vai subtraindo a maresia
com sigilos de carteirista
os metros de madeira carcomida
sorvendo a secreta álgebra dos pés
sem que se lhes adivinhe
um sufoco de saciedade
os cacos de vidro desbaratados pelo espaço
como as veleidades da juventude
vão cintilando numa cantilena
cada vez mais fanada
Mas quando o fazes
quando fechas a luz na gaveta de um instante
há como que um reconhecimento
no espelho
uma demasia que estava por saldar
e que coube no desplante da tua palma
subitamente revelada
Vasco Gato
Publicado em 30 de Janeiro de 2016