Viver
Pobre de tempo
nesta deriva de ruas inapeláveis
sob a atenção dos ossos
esmago com o polegar
o nervo mais sensível do peito
como tinta que alastrasse no ar
assoma ao pano dos olhos
toda a matéria da dor
sabe bem por vezes
desconchavar o mito
sentir por instantes
a respiração a estreitar-se
frente a um destino sem prontuário
secreto privilégio do desespero
viver
Vasco Gato
Publicado em 25 de Janeiro de 2016