Da noite
Sei tão pouco da noite e no entanto
é só nesta rápida ausência da luz
que me florescem gencianas brancas
no tapete.
Dos mistérios o melhor
é que permaneçam velados
inapreensíveis
quando lhes lanço o laço
de algumas palavras
pequenos recursos que
intentam dizer e deslassam depressa
círculos concêntricos
desfeitos na água parada.
A noite é uma deusa nómada
hóspede silenciosa
e sempre de partida.
Falo com ela numa língua antiga
de vozes médias e polissemias
a perder de vista. Dorme-me aos pés um lobo
com a sua pelagem azul
e as gencianas brancas crescem no tapete.
Ivone Mendes da Silva
Publicado em 18 de Fevereiro de 2016