Sei tão pouco da noite e no entanto é só nesta rápida ausência da luz que me florescem gencianas brancas no tapete. Dos mistérios o melhor é que permaneçam velados inapreensíveis quando lhes lanço o laço de algumas palavras pequenos recursos que intentam dizer e deslassam depressa círculos concêntricos desfeitos na água parada. A noite é uma deusa nómada hóspede silenciosa e sempre de partida. Falo com ela numa língua antiga de vozes médias e polissemias a perder de vista. Dorme-me aos pés um lobo com a sua pelagem azul e as gencianas brancas crescem no tapete. Ivone Mendes da Silva