Nas asas do corvo
Sei como são belas as flores
e os caminhos dos sete anos;
sei como são boas de ler, as aventuras
de corsários e damas em perigo,
passar a revolução industrial
pelos dedos de David Copperfield,
aprender como um bem a verticalidade
de muitos derrotados
- sobretudo honras francesas e russas,
comparecendo ainda alguns índios, Miguel Strogoff
e (talvez cortesia do Estado Novo)
gente sulista com pele de algodão
e nobreza antiga,
do tempo das cruzadas.
Havia também um homem entalado no meio da porta de Lisboa,
D. Nuno Álvares Pereira, sempre a cavalo,
e a queda
de Miguel de Vasconcelos.
Não havia revoluções falhadas,
e sempre que um herói tinha de morrer tinha salvo
a parte boa do palácio
e todos os arredores.
Os invejosos eram todos feios ou sê-lo-iam um dia;
Algumas das tiranas eram bastante excitantes, verdade seja dita
(lembro que havia uma pequena culpa interna),
antes de perderem corpo e graça,
em favor da púdica e virtuosa menina,
que seria princesa, rainha
e mãe de muitos filhos.
Os amores eram todos possíveis e únicos,
eternos e breves;
E não havia distância ou diferença de idade
que pudesse vir a impedir a filha mais velha dos von Trapp
de se apaixonar (perdidamente) por mim.
Confunde-se várias vezes a loucura dos sete anos
com uma imaginação fértil
(o garoto é um criativo);
Aos cinquenta e tal
(sobretudo se não desaprendemos tudo o que sabemos),
a coisa é mais o inverso
Não vejo sítio onde poise
esta casa
As the crow flies, baby, well, I ain't so far from you
Rui A.
Publicado em 11 de Fevereiro de 2016