caminha pela solidão nocturna dos quartos de hotel e de fotografia em fotografia chega exausto ao minucioso poema a preto e branco mas já não o surpreende a violenta visão do mundo este lento destroço que um líquido sussurro de prata revela a partir de iluminada fracção de segundo e bebe e ama e foge de si mesmo com a leica pronta a ferir como uma bala ecoando no fundo da memória um néon uma pedra uma arquitectura de luz e sombra ou um deserto onde se debruça para retocar os dias com um lápis na certeza que sobreviverá a estes perfeitos acidentes e estes restos de corpos a pouco e pouco turvos pelo tempo pelo sono ou pela melancolia mas regressa sempre à transumância das cidades quando a alba do flash prende o furtivo gesto sobre o papel fotográfico morre o misterioso fugitivo depois vem o medo que se desprende do olhar imobilizado e do rosto nasce uma vida de infinito caos Al Berto