Ouço-te
Ouço-te, vagarosa sombra.
Na rua fulminada
de crianças
ou na escarpa censurada
pela testa do mar.
Onde quer que haja palpitação,
tu és o contorno.
O teu pudor
desenha-nos.
Na mão que estendes,
qualquer fogo
se faz esmola.
Compreendes por isso
que tudo te recuse.
Mesmo o que dilacera.
O coração,
a leve morfina das noites.
Vasco Gato
Publicado em 29 de Março de 2016