Há uma cidade sem mar em que procuro uma praia. Os homens chegam. Não despertaram as casas e já tomo nos braços o meu vazio. Eles dizem: –“ Procurámos a sombra de uma mulher.” Durante toda a manhã as portas franqueadas deixaram entrar toda a espécie de gente. Na multidão um vagabundo chama o meu nome. Não sei que responda. Passou demasiado tempo. Os exércitos arrebataram o triunfo. Amontoaram os cadáveres no silêncio. Pela minha vigília o pesadelo alastra. Há demasiado sangue nestes epitáfios. Pouco tenho a dizer. O eco subverte o clarão no horizonte quando a pira está pronta para o sacrifício. A inquietação é agora a minha alma. Em nome da beleza a praia não existe. A sombra procurada é só uma miragem. O auriga avança no firmamento. Pelo meu nome a cinza é um ser vivente. Amadeu Baptista