A tempestade desfralda os seus lençóis contra a janela que escurece: o vidro encolhe-se sob o granizo lançado. Transtornado, o televisor perde o tino, transmuda-se em preto e branco e cala-se ao mesmo tempo que as linhas telefónicas. Os postais dela estremecem na prateleira, tombam; as luzes de Calais vão fritando uma por uma. Ele não tem como lhe dizer que os gansos regressam a nado ao crepúsculo, que o farol passeia o seu feixe sobre as trincheiras do mar. Não tem como lhe dizer que a noite vasta balouça como uma porta sem ela, que ele é a fechadura e ela a chave. Robin Robertson, trad. Vasco Gato