Tenho passado a vida inteira à espera
dos veados pretos, aqui escondido no escuro
recanto do bosque.
Apanho-os em vislumbres, quando se desprotegem,
saindo disparados
para se apagarem nas árvores fundas.

Estão ali implícitos, apenas se mexendo
se eu ficar quieto.
Embora num sonho que tenho
se aproximem tanto que lhes sinto a respiração.
Depois, quando olho para baixo,
já desapareci.

Lá no extremo do bosque, o resfolegar
e o tossir do bando a alimentar-se.
Uma rajada desencadeia um desprender de folhas,
que se põem em fuga e saltam como as cabeças remotas
dos veados ao longe.
O vento cessa e as árvores têm chifres.

Robin Robertson, trad. Vasco Gato