A possibilidade da chuva... Se a chuva é possível,
tudo é possível: espinafre, alface, rabanete e endro,
até cenouras e batatas, até groselhas
negras e vermelhas, até andorinhas
sobre o lago no qual se pode ver
o reflexo da lua cheia, e morcegos a voar.
As crianças terminam o jogo de badminton e vão para dentro.
Há uma neblina a ocidente. Aos poucos
o cansaço dos meus membros dá lugar ao optimismo. Sonho
que peço emprestado um avião para ir até Colónia.
Devo também eu ir para dentro. O céu já quase escureceu,
uma meia-lua brilha entre ramos de bétulas.
Sinto-me de repente uma retorta de alquimista
onde tudo isto -- o calor, o tédio,
a esperança e os novos pensamentos --
se vai fundindo numa coisa estranha, garrida e nova.

Jaan Kaplinski, versão de Vasco Gato