Tentas usar o telefone
que já não atende
o teu discar
é agora apenas
o belo objecto que é
como tudo assim
há-de ser
dando-se tempo ao espaço
para fixar
o seu rosto
antes da grande
debandada

mas não foi
em vão
o teu gesto
sorris ao devolvê-lo
a si mesmo
como quem tocou
sem querer
o realíssimo
braço alheio
e se julgou
chegado
à intimidade

quem diz
que o plástico negro
do telefone
não se julgou também
encontrado
na mão insensata
ele que matutava
nas vozes
que o circularam
tão longínquas já
tão definidas ainda
na sua súplica
de que não mais
findasse
aquele crepitar
do silêncio partilhado

Vasco Gato