Nem sempre sabes o que estou a sentir.
Ontem à noite, sob o ar morno da Primavera, enquanto
fulminava alguém que não me interessa
com uma
diatribe, era o amor por ti que me
inflamava,
e não será isso estranho? pois em salas repletas
de desconhecidos os meus sentimentos mais delicados
contorcem-se e
geram o fruto da gritaria. Estende a mão,
não estará
aí, de repente, um cinzeiro? ao lado
da cama? E alguém que amas entra no quarto
e diz não queres
os ovos um bocadinho
diferentes hoje?
E, quando eles vêm, são apenas
uns simples ovos mexidos e o tempo quente
vai-se aguentando.

Frank O'Hara, trad. Vasco Gato