Deverei, pois, dizer-te como é?
Uma cintilação fendida,
Como língua de escurecida chama,
Surgiu para arder em mim.
E assim parece
Que te tenho ainda
Comigo no mesmo mundo.
No tremular de uma flor,
Numa minhoca que, embora cega, se empenha,
No rato que se detém à escuta,
Bruxuleia também
A nossa sombra, sem nada
Do seu brilho despojar.
Em cada pedaço sacudido
Estremece a nossa sombra
Como se em ondas se difundisse de nós, de mão dada.
Somos parte essencial
Da sombra, nada disfarça
O nosso escurecido universo. Compreendes?
Pois disse-te claramente como é.
D. H. Lawrence, trad. Vasco Gato
Compreendes?
Publicado em 1 de Setembro de 2016