Existe espaço suficiente até
Para as cartas da mãe da minha mãe,
Elizabeth,
Que estão há tanto tempo encafuadas
A um canto do telhado
Que se acastanharam e amoleceram,
Susceptíveis de derreter como a neve.

Sobre a grandiosidade de tal espaço
Devem os passos ser suaves.
Tudo está suspenso de um invisível cabelo branco.
Que estremece como pernadas de bétula enredando o ar.

E pergunto a mim mesmo:

«Terás suficiente comprimento de dedos
Para tocar teclas antigas que não são senão ecos:
Terá suficiente força o silêncio
Para transportar a música de volta à sua origem
E de novo para junto de ti
Como se para junto dela?»

Todavia eu levava a minha avó pela mão
Através de muito do que ela não compreendia;
E por isso tropeço. E a chuva insiste no telhado
Com o chinfrim de um riso levemente compadecido.

Hart Crane, trad. Vasco Gato