Se eu esperar que papoilas venham viver nos meus braços
Se esperar que cresçam pombas no quintal
do vizinho de alguém
Se eu esperar que chegue uma doçura feita gente
Se eu esperar que o azeite acalme
 Se esperar que me nasças novamente
Se eu acreditar no teu respeito:
Chama depressa a ambulância, rapidinha;
Estarei louco, certamente
Talvez a precisar de ajuda científica
(a haver ajuda na eficácia, para casos destes, tão exagerados
que perturbam o diagnóstico do perturbado).

Ou então deixa-me por aí, com o vagar do costume
(estas aparas, estas esferas,
acho que devias saber,
foram feitas
devagar).

Porém:
Se eu não esperar que papoilas venham viver nos meus braços
Se não esperar que cresçam pombas no quintal
do vizinho de alguém
Se eu desacreditar que chegue uma doçura feita gente
Se eu duvidar que o azeite acalme
 Se souber a sério que não me nasces novamente
Se eu souber o sabor a menos no teu respeito
e no teu peito:

Chama depressa a ambulância,
minha querida.
Rapidinha.
Estarei perturbado, penso que que até isso é normal,
e talvez a precisar de empenho
médico
(a haver solução, para casos destes, tão empolados
que não ajudam ao diagnóstico do impaciente).

(...)

Mas não:
Eu quero rosas, quero mãos.
Quero flores claras.

Crisóstomo Filho