Atravessou a direito o sonho
até ao lado de lá do sono,
tão fácil quanto isto.

O céu obsessivo
abriu uma janela sem vidro
e o inverno entrou.

Estava lá o seu irmão
a praticar música, virando
costas ao passado.

Estava lá a sua mulher, esguia,
bela, indiferente,
de olhos fixos na luz.

Quem eram aquelas pessoas
que com ele atravessavam a noite?
Conhecia-as a todas?

Algo que nunca dorme
nem acorda. O conhecido
não se deixa imaginar.

O bairro põe-se a
andar. O universo parte
no seu trajecto distante.

Surgem planetas extraterrestres
que se infiltram na nossa cabeça
embora fiquem calados.

Pouco é aquilo que muda
durante a noite. A menos que mude.
Também pode acontecer.

Somos múltiplos,
disse ele ao mundo. Estamos
sozinhos, disse o mundo.

George Szirtes, trad. Vasco Gato