Chamarás luz
à diluição da claridade
e pressa ao modo demorado
como as coisas superam
a luxúria de serem tidas
usarás a decência de calar os dedos
diante do fruto ácido
que não tolera comércio
que só pode ser mastigado
pela saliva dos deserdados

abrirás uma estrada
cuja matéria seja a espuma
das tuas perdas
essa especiaria que ninguém
pode contrabandear
para outro trópico
darás vida a uma nação
unicamente dedicada
ao seu desmentido

e não aproveitarás
a violência da noite
para fazer do sangue
um detergente de ruas
camas ou garfos
mas escreverás
ao fundo da treva
um versículo de mãos abertas
ao corpo sideral que cai
em busca da tua exacta
temperatura

Vasco Gato