Esse brilho para lá da nossa janela não é uma estrela caída.
É a própria frivolidade. É o medo da noite
que fervilha num vizinho, pesadelo de criança teimosa.

Sonhei que perseguia corvos num negrume de névoa marítima
e vento nenhum, com o cheiro gélido da barrilheira e das coisas cambiantes,
ciente de que a orla do mar e a areia se cruzavam na morada dos peixes.

Vi as águas a desenrolarem-se ao encontro da água
que chegava, os pequenos caranguejos levantados das patas.
Vi o lugar de encontro dos corvos-marinhos, as falésias

de ninhos defendidos das quais espiavam águias como reis saciados,
despertas, despertas para a ampulheta movediça do mar
onde tudo se dissolve, onde a própria terra é derrubada.

David Mason, trad. Vasco Gato