Uma vez instaladas as aves diurnas
no ranger das suas árvores,
as portas da floresta abrem-se
à deriva fugitiva
dos veados
entre os báculos luminosos
de novos fetos
e as estrelas legíveis;
as raposas manam da terra;
uma coruja-do-mato
varre o extenso prado.
Numa socapa de luz fluvial,
o focinho da doninha
está já escorregadio de gema de ovo,
e as ilhas mínimas
da baía são pingos
de solda
sob um pára-quedas lunar.
O mar está a dormir ferrado,
num sonho entrecortado por uma síncope
em cada fôlego, não se deixando perturbar
por aquele ploft -- o primeiro
de uma folia de arenques, um cardume
a fender de prata
a pele negra e amortalhada do mar.
Por entre a chuva que principia, a lua
esgueira-se pelo céu arrastando
atrás de si farrapos de nuvens.
A raposa é um lampejo de fitas
vermelhas
na sombra branca da neve.
Os cavalos observam o mar que não
cessa de subir e de avançar
para a colina onde se encontram,
ouvem o arganaz
a chiar sob o amieiro,
os nossos filhos
a respirarem devagar nas suas camas.

Robin Robertson, trad. Vasco Gato