É possível que um trago de vinho no século dezasseis
antes de Cristo
trouxesse um outro olhar
(oblíquo, a partir do quinto),
feito de esperança e sono.

É possível que,
no tempo em que não havia carruagens,
os passos fossem mais lestos,
mais certeiros
ao sítio de onde.

É possível que, nos tempos de jangadas,
de fé em muitos deuses,
nos tempos de outras heresias,
soubesse e fosse bom,
ser fiel a outras gramáticas.

É possível que noutros tempos
(profetas à parte)
o pecado fosse a coisa mais natural do dia,
sem deixar de ser pecado, sal,
no que queria.

É possível que,
para aí em dezasseis ou dezassete
antes de Cristo,
fosse possível acordar inteiro
sem o impossível.

Talvez haja alguma poesia, pois,
no que não acontece.

Mas aí somos, em qualquer tempo.
E acontecemos.

Sir Thomas Berard