É incrível, olha, a brincadeira na rua:
Toda a gente foi dormir e pulas,
vagarosamente nua,
como se fosse tua, a tua rua,
e a cidade fosse tua.
É incrível, olha, a casa pula e pula
(ingénua como se fosse um primeiro dia),
a acordar ecos, virgens, vertigens
e viagens.
Raro de raro (pois),
um momento feliz resistir ao dia próximo.
Berlim, berim pim pim
Antes que esqueça, ou me assalte a inteligência
(quiçá um dia aconteça),
quero que saibas:
No primeiro de cada segundo, para lá da biblioteca,
quis ser fantasma
de nós dois
(e não estava, afinal, inteiramente esquecido).
Não há palavras, de facto, para a ternura que não temos.
E a rua, onde nasce a poesia,
é sempre tua.
Rui A.
Só acredita em milagres quem quer
Publicado em 14 de Maio de 2017