Precária a vida e consentida a morte.
Quanto eu julguei saber como assim eram!
Mas não sabia.
Morreram-me pessoas queridas
e é como se ausentes permaneçam;
mesmo quando morreram perante mim,
não foi à morte delas que assisti:
outrem morreu, que é outro alguém que morre.
Mas também isto ainda o não sabia,
como o sei agora,
se aos meus filhos o olhar se turva
se não sorriem logo, prontamente,
ao mais singelo aceno desta vida
que tão precária acena por seus lábios.
A morte é consentida: se a consentem?
Se se desdobram, numa imagem fixa,
que se perde,
e noutra que parte para sempre,
como se só ausente permaneça,
mas que nunca mais volta,
para viver precariamente
e morrer consentidamente
depois de a morte a mim me haver vivido?
Tudo isto meus versos o sabiam,
que não eu.
E agora que o sei tão ansiosamente,
leio estes versos e suspeito
amargamente que estes o não sabem.
Jorge de Sena