Os poemas
fazem-se às vezes
dos sons e das sobras
que os dias desdenham
e deixam para trás.

É nessa fermentação imprecisa
que sobem à tona
algumas palavras ou sílabas ainda
sons sem-abrigo interpostas figuras
de esquivos sentidos.

Os poemas
fazem-se às vezes
do olhar faminto das raízes
que crescem da página
à procura de mãos
ou de uma morada certa.

Ivone Mendes da Silva