Claro que não é para o nosso
tempo.

Nós, os de olhos vorazes,
os tombados do alto de um penhasco
em que vigora a impureza:
o filme exigiria
um vagar de louco.

A única via então
-- admitamo-lo --
é supor um recorte fulminante
na meticulosa ordem
das coisas
onde seja possível
nadar de costas,

desalmadamente,

sem ver para onde.

Impuros, sim,
mas inteiros de ignorância e fome,
com um lume intransmissível
numa arcada
do peito.

E o abismo por cima,
a estender-nos
as mãos.

Vasco Gato