Claro que não é para o nosso
tempo.
Nós, os de olhos vorazes,
os tombados do alto de um penhasco
em que vigora a impureza:
o filme exigiria
um vagar de louco.
A única via então
-- admitamo-lo --
é supor um recorte fulminante
na meticulosa ordem
das coisas
onde seja possível
nadar de costas,
desalmadamente,
sem ver para onde.
Impuros, sim,
mas inteiros de ignorância e fome,
com um lume intransmissível
numa arcada
do peito.
E o abismo por cima,
a estender-nos
as mãos.
Vasco Gato
E o abismo por cima
Publicado em 1 de Julho de 2017